terça-feira, 20 de dezembro de 2011

16.

Penso em ti e como seria se estivesse contigo passados 6 anos. Perder alguém custa muito, principalmente se for o nosso pai e se o dia da sua partida for dois dias antes do nosso aniversário. No fundo estou contigo e estou a abraçar-te com força. Espero que a força que te conheci te ajude a ultrapassar este momento. Não foste o namorado perfeito mas quando te amei, amei com todos os teus defeitos. Por isso te desejo tudo de bom. Sempre desejei.
Sei que quando tudo acabou a tua família ressentiu a minha ausência. Era presença habitual lá em casa. Amava-os tanto quanto amava a minha família, tu sabes. Hoje uma parte de mim foi com o teu pai também. Tenho pena que depois de tudo ter acabado nunca mais nos tenhamos visto e tenho ainda mais pena que o dia em que nos vamos ver seja o funeral do teu pai.
Talvez nem tenha o direito de sentir que isto tudo também me pertence, quando na verdade fui eu que quis ir embora sem me justificar e sem dizer um adeus à tua família. A verdade é que da última vez que eles passaram por mim, pararam o carro de propósito para me falar e naquele momento tive a certeza que guardava o carinho daquelas pessoas para sempre e que levaria comigo todos os momentos que passámos juntos, tal como eles me guardavam a mim nos seus corações.

Um beijo para ti, F.

sábado, 17 de dezembro de 2011

15.

"A ausência é feita de chumbo, existe dentro do corpo das crianças de um ano e tem o peso do mundo inteiro porque tudo aquilo que é tocado pelo olhar ou pela memória é aspirado para o seu interior. (...) Se te falo de tudo isto é porque esse é, com exactidão, o mesmo medo que sinto quando sais de perto de mim. (...) De qualquer modo, tento viver e, por isso, gostava que soubesses que é este medo que sinto. Mas já não tenho um ano e, para mim próprio, ainda tenho de me obrigar a acreditar que talvez leias estas palavras onde estiveres e que talvez, talvez, talvez queiras voltar."

José Luís Peixoto, Abraço